Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto, mãe de uma das vítimas fatais no atentado em Aracruz, se manifestou publicamente através de uma carta. Zuccolotto falou sobre a dor da perda da filha, a pequena Selena Sagrillo, de 12 anos de idade.
No longo desabafo, ela fala sobre a personalidade da filha e o fato de que jamais terá a chance de conhecer a mulher que a menina viria a se tornar. Na carta, Zuccolotto também desabafa sobre o avanço do ódio.
Na carta, Thais abordou temas como dor, luto, amor e a esperança de que a morte da filha não seja apenas mais uma. Thais fala em uma “revolução”, se referindo a momentos de maior segurança e garantias para crianças, sem ódio.
“O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade”, escreve. Na carta, Thais revela que as palavras foram escritas de dentro do quarto da menina.
A seguir, segue um trecho extenso da carta:
Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:
“Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.”
Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô Jose. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlison, que ela achou “incrível”.
Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.
Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.
Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.
Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo.
Ass. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto”