Apesar de já serem grandes, os números do novo coronavírus no Brasil não são nem de perto semelhantes aos números dos Estados Unidos e Europa, por exemplo, mas os especialistas afirmam que esse não é motivo para relaxar no cuidado. Muitos hospitais já sofrem com a falta de leitos, alguns tem estrutura física mas falta pessoal e assim os problemas continuam.
Para a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), outro problema que se tornará um agravante no caos da saúde é a interrupção do tratamento de doentes crônicos. As medidas de isolamento, em muitas regiões, afastaram os médicos, de atenção basica a família, de seus pacientes. Em muitos casos, os médicos que trabalham na UBS também desempenham função em emergências de hospitais e precisaram priorizar um trabalho.
O problema observado é que pacientes de casos crônicos, como hipertensão e diabéticos, além de integrarem o grupo de risco, podem também enfrentar complicações decorrentes de suas comorbidades, mesmo sem contaminação do vírus, o que poderia gerar uma onda de procura de atendimento de emergência que não aconteceria se o tratamento fosse mantido.
“Uma coisa é deixar pacientes 15 dias sem acompanhamento. Outra é um ou dois meses”, diz Rita Borret, presidente da Associação de Medicina da Família e Comunidade do Rio de Janeiro e médica no bairro do Jacarezinho, no Rio. Borret, em entrevista ao UOL, que foi afastada do trabalho por suspeita de covid-19, alerta que muitas articulações são dificultadas pela falta de estrutura. Até mesmo consultas a distância não podem ser feitas por falta de aparelho telefônico ou celular.
Além da dificuldade de atendimento por parte dos médicos, os agentes de saúde também enfrentam dificuldade para manter o acompanhamento de casos crônicos em meio as medidas de isolamento. Casos crônicos e de saúde mental são os que mais sofrem com a falta de atenção do poder público e, muitas vezes, médicos e agentes de saúde não podem fazer muito sozinhos.