A nova onda da covid-19, assim como previsto por especialistas, está atingindo violentamente pessoas mais jovens. E quando se fala em “pessoas mais jovens”, é preciso ressaltar que crianças estão sendo vítimas da doença e as mortes dentro deste grupo tem aumentado.
A pediatra Cinara Carneiro, que atua em uma UTI especial para a covid-19, conversou com a BBC Brasil sobre o desafio que tem enfrentado. Cinara atua em plantões de 12 horas na UTI do Hospital Infantil Albert Sabin.
Diariamente, ela se depara com adolescentes, crianças e bebês infectados pela doença e que não podem ter a companhia dos próprios pais. “Na nossa unidade, a gente não tem permitido a presença dos familiares, como se permitia antes, pelo risco de contaminação, porque a gente não tem EPI (equipamento de proteção individual) suficiente para disponibilizar para os pais”, explica.
Cinara conta que existem casos em que o paciente chega consciente a UTI, mas sofre piora e morre na unidade sem ter a chance de ver os pais uma última vez. A mortalidade entre crianças ainda é menor do que em adultos, quando se fala em covid-19, mas o avanço dos números preocupa.
“Dói ver uma criança morrendo sem ver os pais”, desabafa a pediatra. Cinara ainda refletiu sobre o estado emocional e mental dos pacientes que estão conscientes durante a internação, já que precisam ver o estado grave dos demais internos.
Cinara se lembra de um paciente, que tinha 14 anos, com quem conversou e, na tentativa de acalmá-lo, acabou fazendo a promessa de que ele acordaria. O menino, a todo momento, dizia que não queria que a mãe sofresse. Ele precisou ser sedado e intubado, mas faleceu pouco depois.
A conversa com os pais também é dolorosa. A covid-19 não permite o processo de luto como conhecemos, então muitos pais tem dificuldade em aceitar a morte dos filhos, se culpam e revoltam.