A maneira como lidamos com algumas doenças, enquanto sociedade, ainda está muito distante do ideal. Depressão e demais distúrbios mentais talvez sejam os mais prejudicados pelo preconceito de quem escuta falar. Muitas vezes, a doença é tratada como “frescura”, o que não melhora o sentimento da vítima.
Um dos maiores riscos dessa doença, além da redução vertiginosa da qualidade de vida, esta a elevação dos riscos de suicídio. 2020 tem na lista de pessoas que cometeram suicídio o ator Flávio Migliaccio.
Aos 85 anos, Migliaccio não via mais motivos para viver e quem dá detalhes da luta e sofrimento do pai é o filho, Marcelo Migliaccio. Essa é uma dor muito pessoal, mas Marcelo encontrou forças para falar um pouco sobre o momento.
Flávio, embora sempre muito alegre aos olhos de quem via, não teve uma vida fácil. Sua dor começou cedo, quando ele relata ter sido vítima de assédio por parte de um padre e depois expulso de um seminário da igreja católica por ter resistido as investidas do abusador. “Desacreditou de Deus para sempre”, conta o filho.
Marcelo conta que tentou de tudo para ajudar o pai, foram visitas a vários psiquiatras, mas Flávio não tolerava os efeitos colaterais das medicações. O ator também não gostava da ideia de fazer psicoterapia.
“O mundo está um lixo”, dizia Flávio. O filho conta que o pai desabafou um certo dia, dizendo “já não escuto direito, minha vista está falhando, a memória também. Daqui para frente só vai piorar. Já vivi demais. Oitenta e cinco anos. Chega“.
Apesar da dor, Marcelo conta que consegue respeitar o pai em sua decisão mais radical. Marcelo conta que apenas discorda do que o pai deixou escrito em sua carta de despedida, de que sua existência não teria valido de nada.
Migliaccio foi um dos atores mais marcantes da dramaturgia brasileira. Suas marcas na história da arte brasileira ficarão para sempre e, sem dúvidas, seu filho esta certo, porque sua vida valeu muito.