Em 1972, o sociólogo Stanley Cohen desenvolveu o conceito de “pânico moral”. Segundo Cohen, essa seria a ideia compartilhada coletivamente de que existe um “grande mal” que ameaça a sociedade, ideia geralmente sem evidências que a suportem. Isto é, diante de episódios marcantes, a comunidade pode aderir uma crença de que um “mal maior”, “sobrenatural” estaria por trás de algum crime.
Recentemente, o país revisitou um caso marcante justamente por este tipo de pânico. Em 1992, a morte do menino Evandro Caetano foi cercada por boatos e especulações que tomaram proporções maiores do que deveriam. O resultado foi um crime sem solução até hoje.
O caso voltou a ganhar atenção depois da estreia de uma série na Globoplay que aborda o caso e esmiúça o passo a passo das investigações. O professor de ciências sociais na UFSM, Francis Moraes de Almeida, explica como isso pode prejudicar as investigações.
“Quando surge um tópico que traz ansiedade social, identifica-se um bode expiatório. Sua participação no problema é então apresentada de modo desproporcional, recebendo uma atenção excessiva em relação à ameaça que ele representa”, explica.
O caso Evandro não é o primeiro caso brasileiro onde o “pânico satânico” ganhou destaque. Agora, a mesma ideia volta a se difundir nas investigações do caso Lázaro, um homem com extensa ficha criminal que tem conseguido fugir da polícia por 10 dias.
Uma vez por semana alguém me marca numa matéria em q algum assassino é relacionado com "bruxaria" ou "satanismo".
Agentes de estado e jornalistas precisam aprender sobre Pânico Satânico e serem mais céticos. Precisamos entrar no século XXI em algum momento.
(difícil, eu sei) https://t.co/nCR0HdD7b1
— Ivan Mizanzuk (@mizanzuk) June 15, 2021
Para especialistas, é preciso tomar cuidado antes de admitir narrativas que associem casos ao satanismo, bruxaria ou magia. No caso Lázaro, por exemplo, a esposa do criminoso afirma que ele é um “homem temente à Deus”.
Outro ponto é que uma das imagens divulgadas pela polícia, como evidência de satanismo, é na verdade um símbolo de Exu, um Orixá de matriz africana que nada tem a ver.